A necessidade de fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) mais uma vez foi destaque durante audiência da Frente Parlamentar em Defesa das Vítimas da Covid-19, realizada na noite de segunda-feira (18.07) na Câmara de Vereadores de Santa Rosa. “O propósito da Frente está em identificar a situação da saúde no território gaúcho, estabelecer políticas públicas e, sobretudo, fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS)”, disse o coordenador da Frente Parlamentar, o deputado estadual Pepe Vargas (PT). Cinco municípios, ao todo, das consideradas macrorregiões do Estados, já realizaram os encontros: Porto Alegre, Santa Maria, Lajeado e Pelotas. Nesta terça-feira (19.07) será a vez de Passo Fundo e, na próxima segunda-feira (25.07) em Caxias do Sul.
Durante a audiência, a Frente ouviu as lideranças políticas ligadas a área da saúde e às vítimas da Covid-19, em busca de colaborar para o enfrentamento imediato, de médio e de longo prazo, dos efeitos causados pela doença. O grupo tem mapeado as realidades regionais, considerando os impactos da pandemia na vida da população e nos sistemas de proteção social, sobretudo o SUS. “Existem demandas relacionadas à Atenção à Saúde da população que apresenta danos crônicos, permanentes ou temporários, causados pela doença, que implicam em novos arranjos assistenciais, ” destacou Pepe.
Soma-se ao cenário do pós-Covid-19 o aumento das “filas” por consultas especializadas, exames diagnósticos, procedimentos ambulatoriais e cirurgias eletivas – represados durante os períodos de restrição dos serviços de saúde. “Temos feito um amplo e importante debate, envolvendo Conselhos Municipais de Saúde, Comissões das Câmaras de Vereadores e Universidades”, disse. Pepe reafirmou a necessidade de implantar um protocolo de orientações de identificação e atendimento aos pacientes pós-Covid-19, a exemplo da experiência de Belo Horizonte (MG).
O encontro de Santa Rosa contou com a presença do deputado estadual Jeferson Fernandes (PT). O parlamentar compartilhou a sua experiência com a perda de familiares. “Me incluo como familiar de pessoas que foram vítimas da Covid. Tive dois óbitos na família: meu tio, minha mãe. É uma dor indescritível a de quem perdeu um ente querido ou quem ficou com sequelas”, contou. O parlamentar lembrou que é preciso manter as medidas de saúde, pois o cenário ainda é de pandemia. A vacinação, segundo ele, deixou a sociedade mais confortável e tranquila, pois na maioria dos casos, os efeitos são menos graves, mas é preciso estar atento. Fernandes lamentou o fato de ainda existir a propagação de mentiras sobre a vacinação. O deputado aproveitou a ocasião para desafiar o governador Ranolfo a investir os R$ 500 milhões que pretendia doar à União para fazer estradas, à saúde. “A bancada do PT propôs que se invista este valor em saúde para fazer frente a estas situações pós-traumáticas da Covid-19”, salientou.
A Frente Parlamentar foi constituída a partir da aproximação com o Comitê Estadual em Defesa das Vítimas da Covid-19, que reúne entidades como o Conselho Estadual de Saúde Brasil e Conselho Regional de Enfermagem e a Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid19 – Vida e Justiça.
Ao final desses encontros, no dia 10 de agosto, será realizado um seminário em Porto Alegre, culminando com a produção de um relatório a ser entregue à Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa, aos governos federal e estadual e à bancada gaúcha no Congresso Nacional.
Audiência em Santa Rosa
Estimular a formação de Comitês, Frentes e Núcleos no interior do Estado, para lutar por investimentos e políticas públicas, tem sido um dos objetivos da Frente Parlamentar. A vice-presidente do Conselho Estadual da Saúde, Inara Ruas, destacou o papel da Frente Parlamentar em “Além de tocar cada um de vocês na formação desses grupos, nessa série de audiências temos mapeado como está a situação em cada município”, disse.
Para a coordenadora do Núcleo de Saúde da Associação Nacional em Apoio e Defesa dos Direitos das Vítimas da Covid-19 – Vida e Justiça, Rosângela Dornelles, a luta pelos direitos dos pacientes e familiares de vítimas da pós Covid-19 caminha junto com a garantir os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Rosângela salientou que a pandemia apontou a importância e potência SUS e, por isso, precisa ser valorizado, com investimento financeiro e capacitação “O sistema está esgotado. Já tínhamos uma demanda represada e hoje as pessoas não estão conseguindo ter o tratamento adequado”, completou. “Com a Covid-19 o atendimento de muitas doenças foi deixado de lado, e o SUS precisa retomar esses processos, e a Atenção Básica de Saúde precisa ser fortalecida.
Rosângela apontou a vacinação das crianças, liberadas em vários Estados, como um avanço importante. “Precisamos ter consciência sobre a necessidade de vacinação, inclusive das crianças, pois só hoje foram 250 óbitos”, destacou.
A médica Vânia Rosa Roman, também salientou a importância das vacinas. “ Já tivemos muitas doenças erradicadas pelas vacinas”, afirmou. Vânia, assim como os demais, concorda sobre a necessidade de fortalecimento do SUS, segundo ela, um dos maiores sistemas de saúde do mundo, junto ao da Inglaterra. Para a médica, o que mais mata no Brasil, além das doenças, é a desigualdade e o negacionismo que levou à morte de quase 700 mil pessoas. “A Covid-19 descortinou a desigualdade e enquanto o governo bancava remédio que não tinha comprovação científica, morriam pessoas”, criticou.
O presidente do Conselho Municipal de Santa Rosa, Cláudio de Oliveira Souto apontou a necessidade de reestruturação do SUS e de capacitação profissional. “Precisamos intensificar a capacitação dos profissionais para identificar as sequelas causadas pela Covid-19”, disse. Claudio revelou ainda que a Rede Básica de Saúde de Santa Rosa e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), concentraram os atendimentos da Covid-19, o que elevou o surgimento de outras enfermidades como infartos, diabetes, entre outros. “Uma Rede Básica de Saúde estruturada desafoga e melhora o atendimento hospitalar”, afirmou.
Já o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina, Marcelo Domingues D’Avila, de Sant’ Ana do Livramento, presente de maneira virtual, lembrou que no início da pandemia, em 2020, quando a Ásia e a Europa davam sinais de alastramento da doença, o Brasil teve tempo para se preparar, o que não ocorreu. “Agora temos a oportunidade de nos preparar neste pós-Covid-19, e não podemos cometer o mesmo erro”, completou. Para o ex-prefeito de Santa Rosa, Orlando Desconsi, é fundamental a realização de pesquisas para identificar o índice de estresse e as doenças que acometem os profissionais da saúde. “Precisamos cuidar de quem cuida do SUS”, afirmou a médica Vânia Rosa Roman.
Vítimas lembra
A jovem Édina Alves perdeu o pai durante a pandemia. Durante um mês ficou internado no Hospital de Santa Rosa. Mesmo sem comorbidades, aos 56 anos ele não sobreviveu às complicações da Covid-19. No último domingo completou um ano da morte dele, e Édina fez questão de relatar a sua história à Frente Parlamentar em Defesa das Vìtimas da Covid-19, pois segundo ela “pareceu que tudo voltou ao normal e que as pessoas não estão sofrendo ou pela perda de um ente querido ou por sequelas”. Édina fez questão de salientar a importância do fortalecimento do SUS, por tudo o que ele representa na vida das pessoas que precisam dos seus serviços.